segunda-feira, 13 de julho de 2009

Tendências: "The end of rational economics"

Há muito que a tradicional infalibilidade das ciências através de uma abordagem exclusivamente racional vem sendo posta em causa, apesar de continuar tendo seus fiéis seguidores: e, como ela, exclusivistas. Porém, aquilo a que se chama de “realidade” não se compadece de visões fundamentalistas e, no tecido econômico-social, sucedem-se modelos e paradigmas que, por sua abrangência restrita, acabam por mostrar-se insuficientes para assegurar uma harmonia relativa entre os atores que nela tomam parte; para não falar dos últimos alertas que chamam a atenção, igualmente, para o relacionamento da vida social e econômica com o meio ambiente. O que seria, não a aceitação de uma realidade imutável e de um modelo imutável de observação da realidade, mas a perspectiva de mudança de ambos, numa busca permanente da excelência relacional entre desenvolvimento econômico e qualidade de vida humana para todos.

Nos conceitos e práticas de Gestão, a tendência para quebrar o racionalismo e aprofundar todas as abordagens na busca de melhores soluções e da aproximação dos modelos com o ser humano como ele é realmente, já é muito mais do que tendência, pelo menos desde a metade do século vinte, entre um número importante de autores e, também, em muitas empresas em todo o mundo. Aconteceu quando os modelos mecanicistas de gerenciamento, por um lado influenciados e importados da Macroeconomia e das Engenharias e, por outro, das práticas do início do século XX derivadas da produção em massa e da “gestão científica” de Henri Fayol e Frederick Taylor (anos 20), começam a dar lugar à pesquisa e perspectiva do enfoque humano na organização, iniciada muito antes por Elton Mayo e as pesquisas de Hawthorne na Western Electric (anos 20-30), Herzberg e “The motivation to work” (1959), os trabalhos de Maslow, Lewin e McGregor, não falando nos desenvolvimentos das últimas décadas do século XX, entre outros, com Schein, Peters, Handy, Senge e, certamente, Drucker.

Mesmo assim, apesar de todos esses precursores, Dan Ariely confessa em 2008 was a good year for behavioral economics que antes da crise financeira de 2008, que se vem desenvolvendo durante 2009, era muito difícil convencer alguém que todos estamos sujeitos a tendências irracionais. O artigo do Prof. Ariely, The End of Rational Economics, que acaba de ser publicado na Harvard Business Review, fala dessa mudança de paradigma e propõe um aprofundamento da economia comportamental (Behavioral economics). Para ele, e ao contrário da crença tradicional sobre a racionalidade das decisões na economia, a economia comportamental tem base na premissa de que os seres humanos são fundamentalmente irracionais e motivados por inclinações cognitivas inconscientes, oferecendo uma visão radicalmente diferente sobre a forma como pessoas e organizações realmente funcionam.

Naturalmente, o que está em causa não é a recusa ou a destruição da racionalidade e a substituição de modelos de racionalidade por modelos de irracionalidade nas Ciências Sociais aplicadas, o que seria uma atitude algo fundamentalista e algo avessa às tendências contemporâneas; mas, sim, a assunção de que paradigmas e modelos puramente racionalistas cobrem apenas uma parte das chances de serem aplicados com sucesso a uma realidade humana que é meta-racional ou, se o quisermos chamar do lado da filosofia da Ciência, transdisciplinar. E onde irracionalidade não significa irrealidade, alienação ou falta de objetividade, mas sim uma parte da realidade que, sendo complexa e frequentemente imprevisível racionalmente, necessita também uma abordagem apropriada para ser entendida e gerenciada em todas as suas dimensões.

Seja como for, e no que respeita aos velhos modelos de planejamento estratégico, baseados na crença da racionalidade absoluta do ser humano, na infalibilidade dos modelos e na capacidade do modelo racional para prever os acontecimentos, temos aí um desafio importante que aponta para a necessidade de usar um pensamento estratégico livre de presunções rígidas sobre a organização (Ver artigo neste blog Estratégia e pessoas).

Referências:

ARIELY, D. The end of rational economics. In: Harvard Business Review. Harvard Business Publishing, July-August 2009, pp. 78-84.

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