quinta-feira, 30 de julho de 2009

A arte da inovação: Guy Kawasaki

A última edição do boletim eletrônico da Wharton-Universia (29-07 a 25-08), publicado ontem, vem com três artigos com elementos que achei muito interessantes e indissociáveis do mundo prático e conceitual da estratégia organizacional: inovação, mudança, liderança. Vamos ver hoje o primeiro, que é sobre o case pessoal de Guy Kawasaki e seus dez mandamentos da inovação, apresentados numa recente palestra na Universidade da Pensilvânia. Kawasaki discursou durante o congresso que assinalou o 20º aniversário do programa de Mestrado Executivo em Gestão de Tecnologia. A palestra, intitulada A arte da inovação, consistiu num manifesto de dez pontos sobre como produzir valor na ótica do cliente.

Anteriormente ligado à Apple e hoje consultor, autor e capitalista de risco, Kawasaki coloca em síntese alguns princípios práticos, coroados empiricamente por experiências de sucesso, e que podem dar muito certo em diversas situações semelhantes, ou que podem nada ter a ver com o contexto original – tal é a virtude da interdisciplinaridade, não só no campo teórico, mas também no campo da prática diária de gestão, em vertentes como prevenção de problemas, obtenção de soluções e na própria decisão.

Algo à semelhança de Umair Haque, comentado em O ESTADO DA ARS no dia 07 de julho passado, Guy Kawasaki possui esse perfil controverso, pulador da cerca da rotina do pensamento estratégico, mas nem por isso destituído de foco e sentido: bem pelo contrário, porque buscando novas faces escondidas pela rotina diária que costuma envolver técnicos, analistas, gestores e decisores. O artigo chama-se Os dez mandamentos do “evangelista” do empreendedorismo Guy Kawasaki , e fala de inovação: uma inovação inteligente, de ruptura. Abaixo alguns excertos (adaptados do original) que considero mais relevantes:





- Ofereça sentido, e não dinheiro. Como capitalistas de risco lidamos com muitas empresas que, via de regra, nos dizem aquilo que acham que gostaríamos de ouvir: como ganhar dinheiro. Pela minha experiência, a maior parte das empresas fundadas sobre o conceito de ganhar dinheiro costuma não dar certo. Elas atraem o tipo errado de sócio e de empregado. Em vez disso, diz ele, o empreendedor deve se preocupar em fazer com que seu produto ou serviço signifique algo mais do que a soma dos seus componentes — e do dinheiro que poderá vir a ganhar.

- Trabalhe com um mantra, e não com uma missão. Declarações insípidas e genéricas sobre a missão da empresa — “oferecer produtos e serviços de qualidade superior para nossos clientes e para a comunidade por meio de liderança inovadora e parcerias” — são boas apenas para o consultor contratado para desenvolvê-las. Em vez disso, prefira a concisão e defina a si mesmo com base naquilo que você quer significar para o cliente. A Nike oferece um “desempenho atlético autêntico”; a FedEx promete “paz de espírito”. Para que todos, dentro e fora da empresa, estejam unidos em torno do mesmo propósito, explique a eles a razão de ser da empresa e de que maneira ela atende às necessidades e aos desejos dos clientes.

- Pule as curvas. Inovar é mais difícil do que ficar simplesmente um pouco à frente da concorrência na mesma curva. Se sua empresa fabrica impressoras de margarida, o próximo passo não é a introdução do tipo Helvética em fonte de tamanho diferente, seu objetivo deve ser ‘pular’ para a produção de impressoras a laser. Isso é mais fácil de fazer em algumas empresas do que em outras. (…) A maior parte das empresas se define por aquilo que faz, e não pelo benefício que gera para o cliente. A verdadeira inovação aparece sempre que pulamos as curvas, e não quando nos esforçamos para melhorar 10% ou 15%.

- Trabalhe com designs exclusivos. Introduza características que não fiquem no trivial. As sandálias Fannin Reef trazem um abridor de garrafas incorporado ao desenho da sola. Há designs igualmente inteligentes, como o da lanterna BF-104 da Panasonic, que comporta pilhas de três tamanhos diferentes (…). Há designs que são completos, porque não se esgotam no produto: oferecem também suporte e serviço. Elegância também é fundamental. Toda empresa deveria ter um CTO — Chief Taste Officer, ou diretor de gosto. Também não pode faltar emoção. Bons produtos produzem emoções fortes: basta lembrar da Harley Davidson, do Macintosh.

- Não se preocupe em produzir um produto perfeito. Isto não significa fazer um produto ruim, e sim que “a inovação poderá conter elementos não muito bons”, disse Kawasaki. Há uma porção de coisas erradas no Twitter, mas ele está mudando o hábito das pessoas. O primeiro Mac tinha muita coisa para ser melhorada, mas ele deixou claro como seria o futuro da computação pessoal, e não precisou esperar muito por isso.

- “Cutuque” as pessoas. Sempre que você tenta dar conta de tudo para todo tipo de pessoa acaba resvalando para a mediocridade. O Scion xB da Toyota, com seu estilo “caixotão”, pode parecer feio para algumas pessoas, mas para os fãs é sensacional. O TiVo faz sucesso, apesar de deixar louca de raiva a indústria da publicidade.

- Não impeça as flores de brotarem. (…) As inovações poderão atrair clientes inesperados e imprevistos. Foi o que aconteceu ao creme para pele “Skin-so-Soft” da Avon, que acabou fazendo sucesso como repelente de mosquito. A regra número 1 consiste em conseguir o dinheiro. Regra número 2: descobrir quem está comprando seu produto. Pergunte a essas pessoas por que o estão comprando e dê a elas outras razões para comprá-lo. Isso é muito mais fácil do que perguntar às pessoas por que não estão interessadas e, em seguida, tentar mudar seu modo de pensar.

- Agite, meu amigo, agite sempre. Nunca deixe de melhorar seu produto ou serviço. Ouça as ideias dos consumidores. Não é fácil, porque o inovador ou o empreendedor deve sempre ignorar o conselho dos negativistas e dos simplórios, para quem quase tudo é impossível. Depois de feito, quando o produto chega às mãos do consumidor, é hora de começar a receber o feedback.

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Adaptado de newsletter Wharton-Universia 29-7 a 25-08-2009: Os dez mandamentos do “evangelista” do empreendedorismo Guy Kawasaki. Acesso em 29-07-2009.

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