segunda-feira, 6 de abril de 2009

Tendências no pensamento estratégico: a "Organização individualizada" de Ghoshal e Bartlett

O trecho abaixo de Sumantra Ghoshal e Christopher Bartlett, na obra citada, dá conta de uma análise dos autores às condições de sucesso de uma amostra determinada de empresas. A parceria dos dois professores, consultores e pesquisadores – o primeiro da London Business School, o segundo de Harvard – durou até 2004, ano da morte de Ghoshal, com apenas 55 anos.

Colaboradores regulares da Harvard Business Review durante vários anos, fizeram publicar em 1997 "The Individualized Corporation", editado no Brasil três anos depois. Mais do que a organização ou empresa em si mesma, o foco desse estudo são as pessoas como indivíduos, ainda que agindo dentro do coletivo da organização. Donde, o adjetivo “individualizada”, uma vez que o foco encontra-se no indivíduo, em seu talento e potencial, com suas características próprias; não na estrutura.

Os autores defendem que um dos fatores de insucesso de muitas empresas reside na imposição de um modelo rígido de gestão e de modelos padronizados de comportamento. Pelo contrário, Ghoshal e Bartlett sugerem que as empresas de sucesso estão configurando pouco a pouco sua estrutura organizacional para adaptar-se aos talentos e motivações de seus colaboradores, de forma a libertar seu potencial criativo e de gestão, em torno de um objetivo institucional compartilhado. Desse ponto de vista, a abordagem de Ghoshal e Bartlett situa-se, como refere o texto, não contra, mas além do paradigma estratégia-estrutura-sistemas. Vale a pena conferir.

« […] À medida que as empresas disparam rumo ao século XXI, uma transformação fundamental está solapando os pilares da doutrina estratégia-estrutura-sistemas. O conhecimento está substituindo o capital como o recurso escasso crítico, e a gerência está sendo desafiada a fomentar um ambiente organizacional capaz de desenvolver, alavancar e difundir esse novo e valioso ativo competitivo.

As empresas bem sucedidas […] adotaram uma filosofia gerencial completamente inovadora. A ênfase se deslocou da adoção de um plano estratégico cuidadosamente elaborado para a construção de um propósito empresarial energizante. Desenvolveram a organização menos por meio de mudanças na estrutura formal do que pela implementação de processos gerenciais eficazes. E redirecionaram o foco do gerenciamento dos sistemas de controle do comportamento coletivo dos empregados para o fortalecimento das capacidades e para a ampliação das perspectivas de cada membro da organização como pessoa. Em suma, evoluíram além da velha doutrina da estratégia, estrutura e sistemas para abraçar uma filosofia mais abrangente e orgânica, esteada na construção de propósitos, processos e pessoas.

É importante verificar que essa nova filosofia não significa a completa rejeição da velha doutrina; eis por que o argumento se refere deliberadamente a evoluir além da estratégia, estrutura e sistemas e não a partir dos velhos paradigmas. A nossa observação é no sentido de que no novo ambiente competitivo, com base no conhecimento e intensivo em serviços, a gerência deve suplementar as tradicionais ferramentas contundentes com as perspectivas propiciadas pelo modelo mais amplo e dinâmico que definimos como a filosofia dos propósitos, processos e pessoas. Essa transformação profunda da filosofia gerencial é a pedra fundamental da Empresa Individualizada.»

GHOSHAL, S. ; BARTLETT, C. A. A Organização individualizada: as melhores empresas são definidas por propósitos, processos e pessoas. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2000.


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